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O Congresso da IYTA no Brasil

Nós havíamos escrito que Zinal não poderia ser apreciado devidamente a não ser daqui a alguns anos e que as conseqüências dessa semana são imprevisíveis. Por exemplo: sem Zinal, Denyse e André Van Lysebeth, sem duvida, não teriam ido ao Brasil para o Congresso da IYTA (Associação Internacional dos Professores Yoga ) nem a maior parte dos participantes europeus, citados por ordem alfabética: Sr e Sra Hug de Lausanne; secretaria geral da União Européia de Yoga; Sr. Jean Lansdorf, delegado da Federação Nacional dos Praticantes de Yoga; Sra. Claude Peltier, vice-presidente da F.N.P.Y.; coronel DIM Robbins, representante do British Wheel of Yoga; Sra. Eva Ruchpaul, fundadora da Associação Francesa de Yoga, acompanhada de 2 alunos colaboradores, todos componentes de uma delegação de 10 pessoas no total.

Algum tempo antes de Zinal havíamos sido atormentados por informações sobre esse congresso, cujo comitê organizador era constituído exclusivamente por mulheres. Por isso estávamos um pouco reticentes (perdoem senhoras) pois temíamos nos encontrar na presença do tipo de ocidentais deslumbradas, que desmaiam quando uma roupa laranja aparece no horizonte e que voluntariamente também se exibem em trajes laranja. Ademais o Brasil não é tão perto, tudo isso nos levavam a uma atitude reservada a cerca desse Congresso, ainda mais que não sabíamos qual era a representatividade da I.Y.T.A. Tantas organizações se proclamam de estatus internacional e na maior parte das vezes trata-se somente de um frontispício!!!

Nossa opinião de modificou depois de ouvir em Zinal a Sra. M. Helena de Bastos Freire, vinda à Suíça especialmente para divulgar os objetivos do congresso brasileiro. Nós percebemos também que a Sra. Bastos Freire não era apenas uma promotora da causa do Yoga, mas sim uma pessoa que tinha os pés no chão. Suas conversas revelaram um conhecimento profundo do Yoga. Ela nos falou de pessoas que contactou na Índia em função do congresso o que foi um trabalho enorme; já tendo organizado por 2 vezes jornadas Internacionais do Yoga, sabemos bem o que é isso! O programa que ela nos apresentou, temos de reconhecer, era bastante atraente.

Julguem:

1) As bases do Yoga do Āyurveda (Dr. Bhagvan Dash)

2) O Yoga da ação sem esforço (Sri R. K. Shringy)

3) Mudrās e Oli Mudrās (Dr. Swami Gitananda)

4) Relaxamento (Dr. K. S. Yoshi)

5) Yoga Dietético (Swami Shivananda Sarawasti)

6) Ciência da Haṭha Yoga (Swami Shivananda Sarawasti)

7) O Haṭha Yoga no controle da síndrome da “dona de casa” (sic) (Maria Teresa Martinez de Vilar) (P.h.D.)

8) Prāṇāyāma (Swami Anandananda)

9) Demonstração de Yoga (B.K.S. Iyengar).

10) Ciência do Rāja Yoga e do Yoga Védico (Swami Rama Theerta)

11) Tântra Yoga (Dr. Nando Lall Kundu)

12) Técnicas avançadas de Yoga (Yogiraj Prem Chaitanya)

O Congresso
A sessão de abertura foi como todas do gênero. Apresentação pela Sra. Sally Janssen (Austrália) presidente da IYTA, das principais delegações presentes, sem a presença de nenhuma das delegações indianas anunciadas: esperadas para amanhã ou depois de amanhã. Elas foram atrasadas por uma questão de “visto”. Quantos participantes? Cerca de 350, sendo 200 brasileiros a maior parte alunos de Maria Helena de Bastos Freire. Durante as aulas deHaṭha Yoga as reconhecemos pelo collant violeta. Eles, perdão, elas formavam a maioria das congressistas. Mais uma quinzena de delegações da América do Sul, com forte contingente de Argentinos, quanto ao resto dos participantes se dividiam entre Australianos (Sede da IYTA – Associação Internacional de Professores de Yoga – sobe a égide da qual se realiza o Congresso, da África do Sul, Canadá e Europa que constituem com seus 10 membros uma delegação de grandes merecimentos). Após a abertura retornamos aos nossos alojamentos em baixo de chuva.

Para amanhã estão previstos vários cursos. Como os indianos não chegaram são as ocidentais que terão de dar sua contribuição. O primeiro dia se passou ouvindo conversações. No segundo dia, nada dos indianos. Oficialmente eles estão simplesmente atrasados, mas amanhã iremos apanhá-los no aeroporto. Nesse meio tempo improvisou-se um programa, solicitando a colaboração de todos. Soubemos que o visto de entrada fora negado aos indianos, mas mesmo assim eles tomaram o avião para tentar obter o visto em Paris.

Foi averiguado que os indianos efetivamente chegaram (pelo menos um certo numero deles) à Paris, mas que não obteriam vistos nem na Índia nem em Paris. Nos encontramos numa situação desagradável: O governo brasileiro não só convidou os indianos com pagou suas passagens aéreas de ida e volta e esse mesmo governo brasileiro recusa agora a entrada deles no país. Isso beira ao absurdo, entretanto é a mais pura verdade! Os indianos jamais chegarão à Bertioga. Com as passagens pagas pelo governo brasileiro eles reembarcarão em Paris para sabiamente retornarem à Índia.

Privado de seus principais protagonistas o congresso se impacienta, a todo custo é preciso improvisar ainda que bem ou mal, um programa. Viemos para aprender e escutar, mas em decorrência dos fatos, nos transformamos em conferencistas e professores! Nem sonhávamos com as recentes mudanças, pois o governo do Brasil não paga nossas transferências nem nossos prejuízos – o tempo perdido e desapontamento. Certos delegados que fecharam seus institutos por 3 semanas tiveram uma perda suplementar e compreendemos que não gostaram nada da situação. Mas tentamos de fazer da má sorte um bem. Não desejamos mal as organizadoras, compreendemos que não são responsáveis, também são vitimas da situação, somente um indiano transpôs a barrei do vista – Dr. Bhagvan Dash de Nova Delhi. Ao chegar com os outros à Paris, ele se recusou a deixar o aeroporto Orly. Ele ficou em transito e no momento propício embarcou para o Rio. Ele foi prevenido que ao chegar ao Brasil não teria autorização para entrar no país sem visto e poderia ser preso por tentar entrar ilegalmente. Ao que ele respondeu: Que eles me aprisionem, veremos! Ele chegou a São Paulo sozinho e sem visto. Os policiais certamente o interceptaram, mas ele soube defender sua causa habilmente. Depois de algum tempo eles o deixaram entrar com permissão para permanecer 5 dias somente e confiscaram seu passaporte. Mas suas atribuições ainda não haviam terminado. Com efeito, ele estava quase sem dinheiro e precisava chegar ao instituto da Sra. Bastos Freire que encontrou fechado quando finalmente chegou. Que fazer? Ele não tinha indicação exata onde estava sendo realizado o congresso, pois havia sido combinado que todos se encontraria no aeroporto e ele não tinha avisado ninguém de sua chegada. Cansado, com fome e sedento adormeceu em um banco no jardim do Instituto de M. Helena onde a empregada da casa o encontrou e preveniu M. Helena que providenciou para que ele fosse urgentemente trazido para Bertioga. E assim ele foi acolhido como um herói, único do grupo dos indianos. Proporcionou-nos uma excelente conferencia sobre medicinaĀyurvedika. Assim o congresso foi desenvolvido até o fim. Mas refletindo, se não nos propiciou o que esperávamos, ou seja, o contato proveitoso com os indianos, nos deu outras compensações. Pessoalmente eu esperava nesse Congresso o reencontro com os indianos, para acertar definitivamente, com Freddy Hug, qual seria o programa e itinerária de massa próxima viagem à Índia. Devido à ausência dos indianos e suas substituições pelos ocidentais, tivemos possibilidades de nos conhecer e entrosar melhor. No fim das contas o que eles nos apresentaram foi muito bom.

A verdade

Tempos depois, recebemos uma explicação sobre a inexplicável recusa de visto dada pelo governo brasileiro. Aconteceu devido a influência de outro grupo que utilizou seu relacionamento com o governo para interditar a entrada no Brasil da delegação indiana levantando a suspeita que esses indianos iriam converter os brasileiros ao Hinduismo. Tudo isso porque o grupo “rival” da Sra. Bastos Freire, organizadora do congresso, era formado pessoas cheias de más intenções. Nós pensamos não ser verídica essa explicação e mesmo que os organizadores (perdão), organizadoras fossem o que eles alegavam não era razão para sabotar um evento de esforços consideráveis e fazer perder tempo tantas delegações de boa vontade, vindas do mundo inteiro.

Certos leitores talvez decepcionados ao lerem esse parágrafo dirão: “Se isto é yoga para que se esforçar tanto!” Pois bem, em yoga, mais que nunca é preciso olhar para seu interior, pois o yoga não é uma abstração. É algo que se deve viver, não para os outros mas para si mesmo. O que importa é o seu Yoga e não o dos outros. E o lema de todos os adeptos deveria ser:

“Se existisse somente um Yogue no mundo eu deveria ser ele.”

Artigo publicado na revista “Yoga – Revue Mensuelle” em 1974

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