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Yoga para gestantes: o que estudos científicos revelam

 

Sandra Ianarelli

Professora de Yoga para gestantes no Centro de Estudos de Yoga Narayana

Questionada frequentemente sobre quais os beneficios comprovados do yoga como excercicio pré-natal pesquisei dois artigos sobre o tema. O primeiro deles:

The effect of prenatal Hatha yoga on affect, cortisol and depressive symptoms

Complement Ther Clin Pract. 2014 May;20(2):106-13. doi: 10.1016/j.ctcp.2014.01.002. Epub 2014 Jan 24.

Bershadsky S1Trumpfheller L2Kimble HB3Pipaloff D3Yim IS4.

Um  estudo que mostra resultados indicando  que um pré-natal com hatha yoga pode melhorar o humor atual e ser eficaz na redução dos sintomas depressivos no pós-parto. Depressão pré-parto (APD) e depressão pós-parto (DPP), transtornos caracterizados por alterações de humor durante a gravidez e após o parto impactam negativamente a saúde materna e infantil física e mental.

Neste trabalho, as participantes do grupo de yoga foram avaliadas em cinco ocasiões: duas vezes cada uma no início e meados de gravidez, e uma vez no prazo de dois meses após o parto.

Evidências consideráveis indicam que mulheres com história de depressão, altos níveis de estresse, ansiedade e apoio social pobre durante a gravidez têm um risco acrescido para a depressão

O primeiro objetivo deste estudo foi investigar os efeitos imediatos de uma sessão de ioga pré-natal sobre mudanças no cortisol e afeto. Os níveis médios de cortisol eram mais baixos nos dias em que as participantes estavam envolvidas em uma sessão de yoga em comparação com dias de atividade habitual.

Dentro do grupo de yoga, o contentamento aumentou ao longo do tempo e foi em geral maior nos dias de ioga em comparação com dias de atividade habitual.

O segundo objetivo foi investigar os efeitos da prática de ioga pré-natal nos sintomas em APD e PPD. Os dados sugerem que a prática regular de yoga durante a gravidez é, de fato, associado com menos sintomas PPD experimentado vários meses depois. Este resultado está em linha com outros relatórios prospectivos que sugerem melhorias relacionadas com o yoga nos sintomas depressivos.

Em resumo, o presente estudo fornece evidências preliminares para benefícios imediatos do yoga em sentimentos de satisfação, bem como os benefícios globais sobre o cortisol e afeto positivo durante a gravidez. Além disso, o sintoma PPD resulta mais favorável ao grupo de yoga em relação aos participantes do grupo de controle sugerindo que o Hatha Yoga pode ter o potencial de melhorar o bem estar materno pós-parto.

Um segundo trabalho é uma tese de doutorado feita pela médica Roseny Flávia Martins  na UNICAMP que aborda a questão do alivio de dores associadas ao período de gestação

Algias posturais na gestação: prevalência, fatores de risco e tratamento das algias lombares e pélvicas pelo método do Hatha Yoga

As algias posturais são condições que afetam o bem estar das gestantes em todas as partes do mundo, com relatos de alta prevalência entre 20% e 80%, o que se reflete em gastos elevados para a saúde pública. As regiões lombar e sacroilíaca foram as mais referidas, seguidas da torácica e cervical. Observou-se que quase metade das grávidas referiu dor em mais de uma região simultaneamente, sendo as regiões lombossacral e dorsolombar as mais acometidas. O risco relativo de as gestantes apresentarem dores nas costas é quase 14 vezes maior que o de mulheres não grávidas.

Vinte por cento das gestantes que referiram dores lombar e pélvica posterior durante o período gestacional podem continuar a referir estes sintomas durante 1 a 3 ou até 6 anos após o parto. A maioria dos estudos de prevalência evidencia que as algias posturais durante a gestação é queixa importante, tanto pela alta incidência entre as gestantes quanto pela intensidade da dor e desconforto provocado.

Além disso, podem influenciar de modo negativo a qualidade de vida, as atividades domésticas, a vida social e principalmente a capacidade física, ocasionando, muitas vezes, mudança no estilo de vida, incapacidade leve a moderada devido à dor durante a gravidez e as mais debilitantes foram relacionadas a trabalhos domésticos, atividade física, cuidados com os filhos, trabalho remunerado, atividades de lazer, relações pessoais e sexuais.

Os problemas relacionados às algias lombares e pélvicas na gravidez já foram descritos na época de Hipócrates (IV aC) e explicados pela teoria da “Disjunção Pélvica”, quando ocorreria o alargamento da sínfise púbica ao longo da primeira gestação, com agravamento nas gestações seguintes, e que poderia estar associado ao aparecimento das dores no ciclo gestacional. Já em 1932, estudos procuravam estabelecer relações entre o alargamento da cintura pélvica e as dores na gravidez, mas somente em 1962 é que foi observada a distinção entre estas algias com a descrição de vários sintomas clínicos e subjetivos.

1. Dor lombar relacionada à gravidez (Pregnancy-related low back pain – PLBP). A dor é referida na região lombar acima do sacro. Está relacionada com a diminuição da amplitude de movimento da coluna lombar, em flexão e circundução, surge durante a palpação dos músculos eretores espinhais.

A dor geralmente tem início entre o sexto e oitavo mês de gestação, do tipo pontada, de intensidade moderada, e se apresenta principalmente ao anoitecer. A sua frequência aumenta com a idade gestacional e pode ser agravada e estimulada por movimentos de flexão e extensão do tronco, pelo esforço físico e atividades extenuantes.

2. Dor na cintura pélvica relacionada à gravidez (Pregnancy-related pelvic girdle pain – PGP) ou dor pélvica posterior. Este sintoma está estreitamente relacionado ao período gestacional, parto e puerpério, acometendo principalmente as primíparas, que têm este sintoma agravado se houver relato de presença de dor na região lombar e/ou pélvica, anterior à gestação. A dor é intermitente e relatada entre a crista ilíaca posterior e a prega glútea, especialmente nas imediações da articulação sacroilíaca uni ou bilateral.

A dor pode irradiar na região posterior da coxa e membros inferiores e também pode ocorrer em conjunto ou separadamente na sínfise púbica, provoca sensação de peso na pélvis posterior e região

glútea profunda, causa a sensação de bloqueio do movimento de flexão do quadril, porém não existe limitação na movimentação da coluna lombar.

3. Dor lombopélvica (Lumbopelvic pain) – associação destes dois sintomas: PLBP + PGP. Estes sintomas interferem na qualidade de vida da gestante que refere dificuldade para realizar as atividades de vida diária, como vestir-se, manter-se nas posturas sentada, em pé ou deitada, mover-se na cama, elevar, carregar pesos, pedalar e nas atividades sexuais.

Neste estudo observou-se que o  método do Yoga foi mais efetivo para a diminuição da intensidade da PLBP e PGP quando comparado ao grupo de mulheres submetidas às orientações posturais.

Isto comprova estudos feitos no Reino Unido entre os vários sistemas de medicina Alternativa (CAM). Entre os vários tipos de CAM (Complementary Alternative Medicine – Medicina Alternativa Complementar) o Yoga foi uma prática considerada adequada e com boa aceitabilidade, sendo a primeira escolha das mulheres (95%) e a segunda dos obstetras (80,6%). O método do Yoga é acessível e bem divulgado em vários países.

Das organizações de CAM no Reino Unido, o Yoga, entre outras terapias, foi indicado pelos profissionais de saúde como método de tratamento para o estresse, ansiedade, cefaléias e algias posturais da coluna vertebral. Entre as patologias estudadas, para as quais o método é recomendado, estão: hipertensão arterial, diabetes mellitus, sintomas do climatério, pancreatite crônica, tuberculose, algias crônicas na coluna vertebral, síndrome do túnel do carpo, distúrbios psiquiátricos, depressivos, estresse e muitos outros.

A prática do Yoga também reduz as queixas de cefaléias, ansiedade, depressão, estresse e melhora a qualidade do sono, do humor, da percepção corporal e da sensação de bem estar. Admite-se que esta terapia possa promover também o alívio das algias na coluna vertebral com a diminuição da tensão muscular, dos sintomas de dor e fadiga, do aumento da flexibilidade e equilíbrio. Promoveria, assim, um estado de relaxamento físico e mental, com consequente diminuição do uso de analgésico.

Entre as gestantes, os estudos com o método do Yoga verificaram a diminuição do cortisol salivar, do despertar noturno, melhora na qualidade do sono, dos sintomas de estresse – entre eles a ansiedade – resultando em melhor qualidade de vida durante o período gestacional.

Em relação ao fator de proteção para o feto, os resultados no grupo que praticou yoga apontaram para a não restrição do crescimento fetal, demonstrado em maior índice de recém-nascidos com mais de 2.500g entre as gestantes que praticaram a yoga, quando comparados às gestantes submetidas à prática de caminhada.

O método do Hatha Yoga poderá oferecer às gestantes alternativas terapêuticas para a redução das dores lombar e pélvica posterior em gestantes. O benefício da validação deste método deverá ser significativo para o interesse das mulheres, pois a técnica, quando bem conduzida, poderá ser difundida e utilizada por profissionais capacitados em muitos serviços públicos de saúde e em consultórios da rede privada.

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